
Nunca, realmente, nunca prestei muita atenção em Elba Ramalho. Cantora de timbre agudo e forte, com repertório recheado de regionalismos, nunca fez minha cabeça. Para mim se eternizou aquela imagem de Elba "Banho de Cheiro", aquela Elba "Carnaval" que estava há muito tempo habituado a ver. Parece que todas estas imagens se desfizeram na noite do dia 15 de outubro de 2008, dia em que Elba Ramalho apresentou seu show "Raízes e Antenas", baseado no repertório de seu último disco, no Teatro da UFPE. Estava afônico naquele dia, mas topei ir. Fomos eu e Tony, na certeza de que iríamos ter uma overdose de regionalismo (que fique claro, não o repudio, apenas faz a minha). Assim que Elba entra, parecendo uma boneca de pano, entoando a canção "Gaiola da Saudade", fiquei pasmo. Adorei vê-la daquela maneira, fiquei encantado. Nos minutos seguintes, Elba desfilou canções modernas aliadas a um timbre já refinado, típico de cantoras com longa estrada e com boa vontade de se renovar. Fiquei mais pasmo ainda, tanto que mostrava via celular a Tony tudo o que achava e o que eu achava e tinha vontade de gritar, mas não podia, era: "Maravilhosa!". Saí de lá impressionadíssimo e dizendo: eu quero ouvir este disco, deve ser algo fantástico. Foi caindo no esquecimento, fui descobrindo outras coisas, até que no dia 25 de fevereiro de 2009, Tony me deu o disco "Qual o assunto que mais lhe interessa?". Parece que tudo que senti naquela noite voltou em dobro. Dobrei meus joelhos e vi que ela pode, sim, fazer coisas diferentes. Inclusive cantar samba. Samba este ("As forças da Natureza") majestosamente registrado por Clara Nunes, mas que Elba não teve medo de cantar e cantou bem. São 16 cançoes, puramente sofisticadas e marcadas por um acento meio profético. Elba nos chama, nos lembra que ela pode flertar com o moderno, mas sem esquecer suas raízes. É Elba diferentíssima em "Último Minuto", "Conceição dos Coqueiros", "Os Beijos", "Tempos Quase Modernos". É Elba antenada as suas raízes em " Novena", "Natureza das Coisas". É finalmente uma Elba Ramalho sofisticada, ousada e feliz nas escolhas que tem feito na sua carreira. Não conheço toda a sua obra, mas posso afirma que este disco é memorável. Não sai do meu rádio. Nem tão cedo.