segunda-feira, 2 de março de 2009

Qual o assunto que mais lhe interessa?


Nunca, realmente, nunca prestei muita atenção em Elba Ramalho. Cantora de timbre agudo e forte, com repertório recheado de regionalismos, nunca fez minha cabeça. Para mim se eternizou aquela imagem de Elba "Banho de Cheiro", aquela Elba "Carnaval" que estava há muito tempo habituado a ver. Parece que todas estas imagens se desfizeram na noite do dia 15 de outubro de 2008, dia em que Elba Ramalho apresentou seu show "Raízes e Antenas", baseado no repertório de seu último disco, no Teatro da UFPE. Estava afônico naquele dia, mas topei ir. Fomos eu e Tony, na certeza de que iríamos ter uma overdose de regionalismo (que fique claro, não o repudio, apenas faz a minha). Assim que Elba entra, parecendo uma boneca de pano, entoando a canção "Gaiola da Saudade", fiquei pasmo. Adorei vê-la daquela maneira, fiquei encantado. Nos minutos seguintes, Elba desfilou canções modernas aliadas a um timbre já refinado, típico de cantoras com longa estrada e com boa vontade de se renovar. Fiquei mais pasmo ainda, tanto que mostrava via celular a Tony tudo o que achava e o que eu achava e tinha vontade de gritar, mas não podia, era: "Maravilhosa!". Saí de lá impressionadíssimo e dizendo: eu quero ouvir este disco, deve ser algo fantástico. Foi caindo no esquecimento, fui descobrindo outras coisas, até que no dia 25 de fevereiro de 2009, Tony me deu o disco "Qual o assunto que mais lhe interessa?". Parece que tudo que senti naquela noite voltou em dobro. Dobrei meus joelhos e vi que ela pode, sim, fazer coisas diferentes. Inclusive cantar samba. Samba este ("As forças da Natureza") majestosamente registrado por Clara Nunes, mas que Elba não teve medo de cantar e cantou bem. São 16 cançoes, puramente sofisticadas e marcadas por um acento meio profético. Elba nos chama, nos lembra que ela pode flertar com o moderno, mas sem esquecer suas raízes. É Elba diferentíssima em "Último Minuto", "Conceição dos Coqueiros", "Os Beijos", "Tempos Quase Modernos". É Elba antenada as suas raízes em " Novena", "Natureza das Coisas". É finalmente uma Elba Ramalho sofisticada, ousada e feliz nas escolhas que tem feito na sua carreira. Não conheço toda a sua obra, mas posso afirma que este disco é memorável. Não sai do meu rádio. Nem tão cedo.

Carnaval em Recife


Que o carnaval de Recife é multicultural acho que todos nós já estamos carecas de saber disso. Acho que apenas a prefeitura esqueceu-se de variar na abertura do carnaval. Tudo rima com Maracatu e, mais uma vez, a abertura, famosa por ter convidados ilustres, acaba indo por água abaixo. Não, gente, nem tudo rima com maracatu. Nem tudo rima com Naná Vasconcelos. Acho que o próprio Naná esqueceu isso. Há dois anos que assisto ao início das festividades aqui em Recife e vejo que a abertura, que deveria ser mágica, linda e emocionante, é apenas um emaranhado de sons (isso quando os microfones funcionam), no qual as alfaias das "trocentas" nações de maracatus se sobressaem, dando a nós a impressão de estarmos num ensaio. Nada parece dar certo naquilo que chamam de início. Os defensores de plantão podem alegar que a chuva compremeteu o som, mas estes problemas são notados há pelo menos 3 anos. Este ano tinha tudo para que a gente ficasse extasiado, feliz, por ver Caetano Veloso aqui, junto a nós. Mas não, depois de uma intensa espera, o que se viu foi um Caetano balbuciando alguns versos, lutando contra o injusto som e, sejamos honestos, lutando contra as alfaias. Ficamos frustrados, eu e Tony, pois poderia ter sido tudo mágico, mas não foi. Mais uma vez a prefeitura repetiu a fórmula exaustiva de misturar tudo com Maracatu. Simplesmente se esquece que Recife tem mil outros ritmos maravilhosos que são quase esquecidos. Portanto, que a Prefeitura observe que, mais uma vez, nem tudo rima com Maracatu.