segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Docência precisa ser decente parte 2


Ser docente, no entanto, não é tão fácil. Existem muitas dificuldades, muito 'jogo de cintura' para perceber que, além de poder ajudar na formação de profissionais, é necessário contar com um pouco de manejo administrativo. É necessário aprender a coordenar e orientar tarefas, estruturar uma equipe e tornar todo o sistema de educação eficaz para o que se propõe a ser feito. É preciso ter coragem para enfrentar a resistência daqueles que acreditam que o apadrinhamento vale mais do que uma carreira bem contruída. Garra para lutar por mudanças substanciais dentro do ensino superior brasileiro, que não pode apenas se pautar em progresso vazio, enquanto a educação básica respira com dificuldade. É preciso ter vergonha para não se deixar reclamar apenas por melhores salários quando tudo ao seu redor se encontrar ruído, pois muitos não fazem a sua parte.

O primeiro passo para ser de(o)cente é não acreditar que a carreira de docência acadêmica vale apenas pelo salário (para a realidade do Brasil, farto) e pela posição que ela dá. Digo isso, não porque acredite que tenha o 'dom' ou porque fui 'predestinado' a ensinar e sim, porque é preciso amar, sentir aquilo que se tem para fazer. Talvez seja impelido por muitos que a falta de experiência é que me faz pensar utopicamente. Mas não. Vejo colegas de formação quase assinando a sentença de que serão apenas professores-fantasmas (aqueles que aparecem pouco, são bem famosos e ainda ganham em cima disso), pois a (sic) 'o ensino superior é falido neste país'. É uma pena, quero mais do o salário, quero mais do que o título. Quero seguir o que realmente gosto de fazer, o que me deixa vivo. O ensino da Odontologia me traz isto.

Realmente, não pretendendo julgar ninguém, embora já tenha feito. É apenas um desabafo, é como concebo as coisas, este universo que frequento há 2 anos e que desejei frequentar sempre. É a visão de quem está vendo a engrenagem por dentro, enquanto parte, ainda discreta, dela. É simplesmente a vontade de que as coisas mudem. Tenho ídolos, professores queridos, que não são meus padrinhos e que não me deram cargo algum. Entretanto, me mostraram que, mesmo com tantas dificuldades, é possível se fazer algo.

E por isso, me sinto herói. Justamente por ser marginal.


Docência precisa ser decente parte 1


Imaginei minha vida como docente antes mesmo de me familiarizar com o termo. Tudo que conhecia era 'professor'. Ares de 'querer ser professor' existiam dentro de mim até mesmo antes de ingressar na universidade e me tornar o que sou. Pensava em Matemática. Como seria bom ensinar Matemática (matéria que ainda tanto amo) àqueles que a viam como um fardo. Seria maravilhoso mostrar-lhes que ela não era assim tão complicada, bastava gostar um pouquinho e pronto, tudo seria simples. Mas a vida me trouxe e me faz sentir orgulho da profissão que escolhi: cuidar da saúde bucal das pessoas. Em meio ao aprendizado de anatomia dentária, ortodontia, dentística e afins, me vi fascinado por ensinar quando me deparei com a possibilidade de dividir um pouco do pouco que eu sabia com outros alunos, apenas 1 semestre a menos que eu, num laboratório de histologia. Eram horas e horas, felizes, em meio a explanações de como identificar 'tais e tais' estruturas no microscópio. Fiz amigos, aprendi demais. Despertei também antipatias, tudo dentro do normal. Levei o desejo intenso de ensinar, de me gratificar com aquilo. Outra oportunidade surgiu e me deparo ajudando numa disciplina clínica. Vi muitos olhares de desespero, medo e suor frio. Vi alunos, assim como eu, tensos por estarem com seu primeiro paciente e não saberem o que fazer. Tentei, dentro do possível, acalmar, alentar e ajudar. Vi, da mesma maneira, pacientes rindo, agradecendo pelo trabalho, muitas vezes sacrificados, dos alunos. Imagens lindas e que não devem nunca ser apagadas de mim. Carreguei-as até o fim, quando me tornei cirurgião-dentista. Veio a grande questão: como pode eu ter seguido um caminho que, de certa forma, me afasta de dividir o conhecimento que tenho? Estar dentro da Odontologia clássica significaria partir para a prática clínica e me contentar apenas com a gratificação (que não é pouca, vale bem lembrar) de ajudar alguém a cuidar de si própria de maneira melhor, contribuindo para o seu bem-estar. Decidi que não, não queria SÓ aquilo. Queria mais. Ser professor. E sou. Estou em formação, é verdade (concluo o mestrado logo logo). Mas me sinto assim. Lembro o quanto me segurei para não chorar quando um aluno me chamou de Professor, nossa que emoção! Comove descobrir que eu não estava errado e que dividir o pouco que ainda sei é uma das coisas mais prazerosas que já fiz na vida. Mas a docência também tem seus percalços e problemas...